terça-feira, 19 de agosto de 2014

De olho em 2016: conheça Isaquías Queiroz

    Hoje falaremos de uma das esperanças de medalha para os Jogos Olímpicos de 2016. É o canoísta Isaquias Queiroz. Passada a Copa do Mundo de Futebol, o mundo dos esportes vira seus olhos para este evento. E o Mais Um acompanha diversos esportes e vai dar seu pitaco sobre alguns deles.

     O Brasil tem pouquíssima tradição na canoagem. A modalidade é disputada em dois estilos: velocidade e slalom. Isaquias Queiroz disputa no estilo velocidade. São disputadas 3 provas neste estilo nas Olimpíadas (C1 200 metros e C1 1000 metros (individuais) e C2 200 metros (dupla). Antes de Isaquias Queiroz, o nome mais conhecido neste esporte tinha sido Sebastian Cuattrin, um argentino naturalizado brasileiro. Diferentemente de Queiroz, Cuattrin competia no caiaque (K). Ou seja, na modalidade slalon. Cuattrin medalhou em panamericanos e participou das Olimpíadas de Atenas, em 2004.

     Isaquias Queiroz já pode ser considerado o melhor atleta brasileiro na modalidade de toda história. Os olhos da impressa e do mundo se voltam para Queiroz desde 2011, quando ele ganhou duas medalhas nos Jogos Mundiais Junior de canoagem. Nesta competição, o atleta ganhou duas medalhas. Uma na prova não olímpica do C1 500 metros (prata). Outra a medalha de ouro na prova olímpica C1 200 metros. Com esse feito, se tornou o primeiro atleta brasileiro a ser medalhista em um mundial da categoria.

     

     O atleta fez muito bem a transição de júnior para profissional. Em seu primeiro mundial, em 2013 na Alemanha, conquistou duas medalhas. Bronze na prova olímpica do C1 1000 metros. E ouro na prova não olímpica do C1 500 metros. Mais uma vez, foi o primeiro atleta brasileiro a conseguir tal feito. Na transição do júnior para o adulto, o atleta decidiu não competir no C1 200 metros.

    Este ano, Queiroz começou muito bem! Primeiro na etapa da Copa do Mundo de canoagem, ocorrida em maio na Itália, ganhou duas medalhas. Ouro no C1 500 metros. E bronze no C1 1500 metros (não olímpica). No mundial o atleta teve uma participação quase perfeita! Bateu recorde do mundial no C1 500 metros nas semifinais e ganhou o ouro novamente. No C1 1000 metros a medalha de ouro não veio por pouco. O atleta caiu da canoa a poucos metros do final da prova e foi desclassificado. Mas não parou por aí. Visando os jogos olímpicos, o atleta começou este ano a competir com Erlon de Souza na prova C2 200 metros. E a estreia foi excelente! A dupla foi medalha de bronze!

    Ainda faltam dois anos para as Olimpíadas. Mas sem dúvidas, Isaquias Queiroz tem feito um ciclo olímpico excelente e vai se tornando um dos poucos atletas brasileiros a ter chances reais de medalhas em 2016! O Mais Um vai acompanhar a trajetória do atleta!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A primeira derrota de Hitler: Jesse Owens e a vitória da humanidade

               
           Em 2013 completava-se 100 anos do nascimento de uma das maiores lendas do esporte mundial: Jesse Owens. Por coincidência, ou não, neste ano estreou no mundo todo o filme “A menina que roubava livros”, ambientado nos anos da 2ª Guerra Mundial. Em uma das cenas as personagens Liesel e seu amigo Rudy protagonizam uma das mais belas partes do filme. As crianças apostam corrida pelas ruas do bairro e Rudy se pinta de carvão para ficar negro, pois seu ídolo era ninguém menos do que Jesse Owens, que poucos anos antes da cena retrada no filme havia derrotado a ideologia nazista nas Olimpíadas de Berlim em 1936.


                Além da belíssima homenagem a este ícone do esporte, a cena nos mostra como muitos seres humanos se recusaram a aceitar a ideologia antiluminista de superioridade racial, que é a base do Nazismo. Um menino ariano no auge do Nazismo sonhando em ser um negro! Esta é uma das várias leituras que podemos ter sobre a vida de Jesse Owens. Inspirador de igualdade, de utopias! O homem que provocou a primeira derrota de Hitler! No último dia 03 de agosto completou-se 78 anos desta derrota.    O ano era 1936 e Hitler estava há três anos no poder e via seu governo se consolidar, criando uma hegemonia nazista na sociedade alemã.  Neste contexto, as Olimpíadas seriam a coroação da superioridade ariana perante o mundo. Hitler havia investido muito para realizar a maior Olimpíadas da história. O estádio de Berlim, por exemplo, era o maior do mundo, com capacidade para mais 100 mil pessoas. Além disso, nesta Olimpíadas Hitler testou seus mecanismos de propaganda, pois o evento começou a ser gravadas e exibidas mundo afora. Mas ao invés da superioridade ariana, Hitler teve que ver atletas negros americanos vencerem diversas provas.
                Os Estados Unidos levaram 16 atletas afro-americanos para as Olimpíadas de Berlim, em 1936, desses 06 ganharam ouro no atletismo. Um deles foi o primeiro a derrotar Hitler, mesmo que simbolicamente, nestas Olimpíadas. Cornelius Johnson venceu a prova do salto em distância, no estádio de Berlim lotado com mais de 100 mil pessoas, diante de Hitler, que para não ter que cumprimentar e premiar Cornelius abandonou o estádio. E não pode mais voltar, pois os atletas afro-americanos dominaram as provas de atletismo, sendo Jesse Owens o maior deles! Vejamos um pouco mais da vida deste herói negro ...
                Jesse Owens nasceu em 1913 em Oakville, sul dos Estados Unidos. Era neto de escravos, filho mais novo de 7 irmãos. Ainda criança, ele e toda sua família mudaram-se para Cleveland, norte dos Estados Unidos, fugindo da opressão racial que imperava no sul daquele país. Essa migração não foi algo especifico da família Owens. Entre o fim da escravidão nos Estados Unidos em 1865 e as primeiras décadas de século XX, mais de 1,5 milhões de afro-americanos migraram do sul para o norte daquele país.
                Jesse Owens foi um atleta espetacular. Desde sua carreira na High School ele simplesmente destruía os recordes americanos nas provas de 100 metros, 200 metros e salta em distância. Em 1928, ele bateu o recorde Junior nacional na prova dos 100 metros rasos. Daí em diante, tal feito seria algo corriqueiro na vida dele. Venceu todas as competições estaduais e nacionais. Na High Scholl bateu o seu primeiro recorde mundial, na categoria junior, no salto em altura, em 1930.  E ingressou na Universidade de Ohio em 1931, aos 18 anos. Não conseguiu bolsa e além de competir e estudar, trabalhava a noite como garçom, como operador de elevadores, como bombeador de gás e numa biblioteca. Mesmo assim, sua carreira atlética seguia brilhante!
                Em 1935, conseguiu o que para muitos até hoje é o maior feito esportista na história. No campeonato nacional americano, Owens bateu 4 recordes mundiais no mesmo dia, com um intervalo de apenas 45 minutos! Consagrou-se vencedor nas 4 provas em que seria medalhista de ouro olímpico: 100 e 200 metros, revezamento 4 x 100 metros e salto em distância. Sendo assim, Owens já chegou nas Olimpíadas de Berlim como uma estrela do esporte americano.
                Nas 4 provas que competiu, Owens confirmou seu favoritismo e venceu. Em nenhuma delas Hitler estava no Estádio Olímpico de Berlim. Os negros norte-americanos dominaram as provas de atletismo e o chefe máximo do Nazismo não queria ser humilhado e entregar as medalhas de ouro. Owens foi o primeiro atleta a ganhar 4 medalhas de ouro em uma mesma Olimpíadas. E assim permaneceu por muitos anos. Apenas em 1984 outro atleta negro, Carl Lewis, igualou tal feito no atletismo.
                Mas as vitórias de Owens não pararam por aí. Ao regressar aos Estados Unidos, ele se deparou com todo o racismo da sociedade norte-americana. Anualmente o maior atleta dos esportes amadores americanos era presenteado com o troféu (ver o nome ... nova pesquisa). No ano de 1936 o premiado foi Glenn Morris, atleta branco vencedor do declato nas Olimpíadas de Berlim. O troféu era entregue numa suntuosa cerimônia na Casa Branca pelo presidente norte-americano. Neste caso, Franklin Roosevalt. Sobre este episódio, Owens escreveu em sua biografia: "É verdade que Hitler não me cumprimentou, mas também nunca fui convidado para almoçar na Casa Branca".
                Neste mesmo ano, a Federação Americana de Atletismo retirou a licença de esportista amador de Owens. O que naquele contexto significa parar de competir, pois só atletas esportistas amadores competiam. Com isso, Owens chegou a correr contra cavalos para conseguir seu sustento. E mais, durante as décadas de 1940 e 1950, quando ainda estava no ostracismo em seu país, trabalhou com jovens carentes em Cleveland.Trabalho que faria por toda a vida. Criou a instituição Chicago Boys, que atendeu mais de 150 mil crianças ao longo da vida de Owens.
                Na década de 50, ele sai do ostracismo público e começa a trabalhar para o estado, sendo contratado Especialista de Esportes do Estado de Illinois. Em 1955 foi nomeado pelo Departamento de Estado nacional como Embaixador do Esporte. No cargo, viajou por diversos países e foi o representante dos Estados Unidos nas Olimpíadas da Austrália de 1956.
                Mas é apenas em 1976, após as lutas por direitos civis dos negros, das quais Jesse Owens nunca participou ativamente, que a lenda vida dos esportes é recebida na Casa Branca. Na data recebe a maior honraria civil nos Estados Unidos, quando o presidente Gerald Ford presenteou-o com a Medalha. Em fevereiro de 1979, retorna para a Casa Branca e é recebido por Carter, que lhe presenteia com o Living Legend Award. No ano seguinte, Jesse Owens falece devido a um câncer no pulmão.

                Considero que Owens é o maior ícone do esporte da história. Suas vitórias nas Olimpíadas de Berlim simbolizaram a luta humana contra a tirania, a pobreza e a intolerância racial.