domingo, 14 de junho de 2009

Negros contra a Guerra do Vietnã

Em 12 de junho de 1967 aconteceu, nos Estados Unidos, uma reunião histórica. Muhammad Ali concedeu uma coletiva de impressa após ser punido pela justiça norte-americana por ter se recusado a lutar no Vietnã. Queria explicitar que não voltaria atrás em sua atitude. E Ali recebeu um apoio de peso na coletiva. Foram se solidarizar com o boxeador Kareem Abdul-Jabbar, Jim Brown e Bill Russel.

Os Estados Unidos apoiavam o Vietnã do Sul desde o início da Guerra do Vietnã, em 1959. Mas foi apenas em 1965 que os americanos enviaram seus soldados para o combate em terras vietnamitas. A atitude desde o início gerou conflitos em solo americano. Apesar de o governo ter todo o apoio da grande mídia, muitos americanos eram contrários ao conflito.

O governo americano, então, achava que a convocação e o aceite de Muhammad Ali em ir à Guerra poderia ser um grande trunfo no convencimento de seus cidadãos pela entrada do país na Guerra. A Casa Branca desejava que um campeão mundial de pesos pesados desse um exemplo para a sociedade, sendo um “bom negro”, cristão e patriota. Exemplificado pela sua adesão à guerra do Vietnã. A escolha de Ali não foi a melhor para isso. O atleta era polêmico, combatia o racismo que havia nos Estados Unidos com sua fama, atitudes e palavras. Além disso, o boxeador havia se convertido em Islamismo em 1964. Assim, Ali tinha em si todo o potencial de lutas raciais nos EUA dos anos 60: negro, não obediente à ordem do país e islâmico.

Assim que soube que poderia ser convocado para a Guerra, Muhammad Ali envia uma carta, em março de 1966, ao governo se recusando de ir para a guerra. A mesma não surte resultado e em abril de 1966 ele é chamado para o conflito. Começa uma verdadeira batalha entre Ali e o governo americano, que tem apoio da grande mídia. Desde o início Ali diz que não irá para a Guerra. É taxado de desertor pelo governo e pela grande mídia americana. Quando perguntado de seus motivos para não ir à Guerra enumerava dois principais: sua religião era contra guerras, e os vietnamitas nunca o chamaram de negro, numa alusão explícita ao racismo da sociedade americana.

O governo e a mídia não poderia tolerar tal ato de desordem e começam a perseguir o boxeador. Afinal, um negro não poderia desafiar a ordem dessa forma. A função social dos mesmo era servir a ordem, seja através da exploração de seu mais valia na época da escravidão. Seja agora indo lutar como soldados para um país que os explorava e os tratava de forma desigual aos brancos.

Ali é condenado em abril de 1967 a 5 anos de prisão, a perca do título de Campeão Mundial de boxe e a sua licença para lutar. Após uma pressão da sociedade, a pena de prisão é cancela. Mas as outras não. Por esse motivo, Ali chama uma coletiva de imprensa com os outros atletas negros para dizer que não cederia, iria cumprir as punições, mas não se renderia ao governo. Não iria à Guerra.

Se reuniram ali 4 dos maiores atletas dos Estados Unidos de todos os tempos. Bil Russel ganhou a NBA 11 vezes e em 5 temporadas foi escolhido o MVP. Atuou no Boston Celtics durante toda a carreira entre 1956 a 1969. Também era um atleta irreverente. Se recusou a retirar o cavanhaque, símbolo de rebeldia, jogava com tênis de cano baixo e não dava autógrafos, pois era uma atitude falsa de aproximação entre o fã e o atleta. Kareem Abdul-Jammar é até hoje o maior pontuador da história da Liga de Basquete Americano com pouco mais de 33 mil pontos. Também atuou contra o racismo e em 1968 se recusou a ir as Olimpíadas do México devido a segregação racial que havia em seu país. Já Jim Brown é um dos maiores corredores da história do futebol americano, detentor de recordes na modalidade por décadas. Por fim, Muhammad Ali é considerado por muios o maior boxeador de todos os tempos e dispensa maiores apresentações.

O encontro marcava a unição de atletas negros de 3 dos 4 esportes mais populares dos Estados Unidos: boxe, basquete e futebol americano. Era um exemplo de como a década de 60 foi um dos mais elevados e, ao mesmo tempo, contestadores período da história moderna dos Estados Unidos. Uma série de lutas ocorriam como o Movimento dos Direitos Civis dos afro-descendentes. E os atletas que se reuniram para dar a coletiva de imprensa foram mais um fato desse forte movimento que ousou desafiar à ordem da sociedade americana de então.

O desenrolar dos acontecimentos no Vietnã mostrou quem tinha razão. Mais de 50 mil soldados americanos morreram em terras vietnamitas e 300 mil voltaram feridos. Em 1970 um clamor público pede a retirada dos EUA da Guerra e a volta de Ali aos ringues, o que ocorre no mesmo ano e o atleta recupera o título Mundial no mesmo ano. Perde o título novamente em seguida. Mas recupera novamente em 1974 depois de uma luta épica contra George Foreman. Já o governo americano decide sair do Vietnã, humilhado, em 1972.

terça-feira, 9 de junho de 2009

E Recife disse Amém

Amanhã, 10/06, a seleção brasileira volta a jogar em Recife depois de 16 anos. A última apresentação da seleção brasileira na cidade foi em 1993, nas eliminatórias para a Copa do Mundo do ano seguinte. A seleção goleou a Bolívia, 6 a 0.

A grande mídia vem dando grande destaque para o fato de que a seleção brasileira ser sempre bem recebida em Recife. Relembrando, foi no jogo de Recife de 1993 que a seleção entrou, pela primeira vez, de mãos dadas, gesto repetido até a conquista do tetra. Foi também em Recife que a seleção desembarcou ao voltar dos EUA após a conquista.

O que não vemos na Globo e companhia é o porque Recife ficou tanto tempo sem receber jogos da seleção. E a explicação é simples. Carlos Alberto Oliveira, presidente da Federação Pernambucana de Futebol, após 1994 virou um opositor de Ricardo Teixeira. O dirigente deixou de abaixar a cabeça para Ricardo Teixeira. Contestou contas da CBF publicamente e votava contra a aprovação das mesmas. E o ápice da coragem, ousou se candidatar a presidência da CBF em 2003. Seu resultado demonstra com as federações são massa de manobra de Ricardo Teixeira. Teve apenas um 1 voto, o da sua federação.

Mas Ricardo Teixeira, como um bom monarca que acha que é, é piedoso. Carlos Alberto Oliveira voltou a ser apenas um capacho do mandatário da CBF. Como resultado, Recife foi escolhida uma as 12 sedes para a Copa do Mundo de 2014 e a seleção brasileira volta a jogar em Recife.

Esse episódio serve apenas para demonstrar como Ricardo Teixeira faz o que quer com o futebol brasileiro, pois a estrutura de nossa paixão não passa de um feudo deste monarca absolutista.