quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A Chantagem Olímpica


Essa semana, em caráter de urgência, a Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro recebeu um projeto vindo do executivo que é elucidativo de como a Copa da Mundo e as Olimpíadas se tornaram um dos principais motores para que a iniciativa privada lucre com o apelo popular desses eventos em detrimento do público.  E mais! Com total anuência e ajuda de nosso governantes. Assim, se configura uma remodelação dos espaços públicos em um projeto de elitização, que chamo de Faxina Étnica! Vamos explicar essa história.

O projeto de Lei enviado à Câmara propõe alterações em uma Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) na região da reserva florestal de Marependi, zona oeste da cidade, também conhecida como Barra. Pelo mesmo, essa ZCVS poderá em uma área de 58 mil metros quadrados ter um campo de golfe construído e, também, abrigar prédios de mais de 20 andares, quando o antigo padrão era de 6 andares. Aparentemente, algo normal na vida de grandes cidades brasileiras. Mas não é bem assim.

Primeiramente pela relação existente entre a empresa responsável pela construção, tanto do empreendimento imobiliário como do campo de golfe, a RFZ Cyrella e de um dos seus acionistas o italiano Pasquale Mauro, conhecido grileiro de terras no Rio de Janeiro.

A área em que se situa tanto o empreendimento imobiliário, como o “futuro”  campo de golfe são fruto de ferrenha disputa pela posse da terra entre Pasquale Mauro, a ELMWAY Participações e o espólio de duas outras pessoas. Este caso está no Supremo Tribunal de Justiça e, por ora, a posse do terreno continua com Pasquale Mauro. Entretanto, a ELMWAY já disse que ganhando a disputa tem outros planos para a área. Além disso,  Cyrella e outras empresas do ramo são uma das principais doadoras para a campanha de Eduardo Paes, mostrando a relação entre empreiteiras e esse grupo político na cidade do Rio de Janeiro.

Além disso, no processo que dá a posse de terra ao Pasquale foi julgado por Luiz Sveiter em outubro do ano passado, quando este presidia o TRJ/RJ. Cruzando dados sabemos que a Cyrella tem negócios com o escritório de advocacia da família Sveiter e, também, a Cyrella doou dinheiro para a campanha do, agora, deputado federal Sergio Sveiter. Sendo assim, Luiz Sveiter deveria se declarar inapto para julgar o caso. Como não o fez, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em dezembro do ano passado abriu processo contra o desembargador Luiz Sveiter. Como se vê, não existe fronteiras entre os interesses do grupo Cyrela, o judiciário e o executivo do Rio de Janeiro.

De acordo com o prefeito do Rio de Janeiro a prefeitura não gastará um centavo com a construção do campo de Golfe. Toda a construção será bancada pela construtora Cyrella em contrapartida da construção de um conjunto de prédios na região. Cabe ressaltar que o valor de mercado do terreno em que se construirá o Golfe é de R$ 2 bilhões e 200 milhões de reais. E o valor da construção seria de R$ 60 milhões. Cabe perguntar. Qual empresa faria essa doação bilionária sem interesses para além do resort? Além disso, o terreno não passará para a posse para o estado. O uso será de 25 anos. Depois desse período o terreno volta para as mãos da iniciativa privada.

É uma influência no modo de governo que vai para além dessa região e afeta todo o estado do Rio de Janeiro. A Copa do Mundo e as Olimpíadas são catalisadores de uma forma de gerir o estado que é elitista e contrária aos interesses do bem comum. Expulsão dos moradores para áreas distantes, favorecimento das grandes empresas do ramo empreiteiro, financiamento de campanha de políticos tudo se fecha em um mesmo projeto de cidade.

Tudo em nome das Olimpíadas. É um novo tipo de coação, a “Chantagem Olímpica”.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Dia 10 do Mês da Defesa do Pênalti do Marcelinho, Do ano I, da Era de São Marcos: voltaremos!


Passaram-se pouco mais de 48 horas do rebaixamento da Sociedade Esportiva Palmeiras. O segundo em 10 anos! Um time da grandeza do Palmeiras não merece ser tratado dessa forma por uma geração de dirigentes amadores e que se preocupam com vagas em estacionamento, saunas e outras pequenezes enquanto rebaixam um dos titãs do futebol nacional.

Não a toa centenas de palmeirenses protestam contra a diretoria do clube em várias cidades do país! O presidente Tirone logo após o rebaixamento perguntado sobre o futuro, respondeu que o futuro era o hoje. Um presidente do Palmeiras que não consegue planejar o futuro do maior campeão nacional de nosso futebol? E que no dia seguinte vai para a praia do Leblon! Definitivamente nosso clube está nas mãos de amadores, para dizer o mínimo. Sobrenomes de conselheiros do Palmeiras me fazem pensar que estamos diante uma “casa real” digna de histórias do Cervantes pelas tantas trapalhada ques fazem!

E diante dessas trapalhadas surge a torcida palmeirense, uma verdadeira Dom Quixote que acredita e luta para recolocar o time no lugar que merece!

Uma torcida que há mais de década faz movimentos para se associar ao clube, virar conselheiros, influenciar a política do clube com um plano definido para a modernização do futebol e que este ano alcançou uma primeira grade vitória com a aprovação da eleição direta para presidente! Retiramos um pouco do poder deste Conselho Palmeirense que pensa e age como se vivesse em uma ordem feudal. Nosso conselho não passou pelo Iluminismo!

Não tenho dúvidas de que a torcida do Palmeiras será o principal alicerce para a nossa volta. E aqui não há nada de ufanismo. Cada palmeirense sofreu muito no domingo. Chorou, entristeceu. É o contrário. Sabedores da pequenez de nossas últimas diretorias é que o palmeirense se politiza. Talvez nenhum outro torcedor no Brasil precise se preocupar mais com o fora de campo e menos com o time e com a arquibancada.

Não imaginamos que o amor que sentimos pelo Palmeiras é maior ou menor do que o de outras torcidas. Outros times do mundo passaram por situações piores e se levantaram.

Apenas amamos esse clube! A beleza do amor pelo clube é isso. Não enxergamos apenas aquilo que o rebaixamento revelou. Vemos não aquilo que o Palmeiras é. Mas aquilo que foi e que pode e será! E essa é a beleza de nosso amor pelo Palmeiras.

Por isso, sabemos dimensionar a grandeza dessa instituição. Somos o maior campeão nacional, com 11 títulos, do maior país do mundo quando falamos de futebol! A perseguição que nossos ancestrais sofreram por sua origem italiana se tornou orgulho de mostrarmos o azul e o vermelho e nos chamarmos de palestrinos. Viver décadas sobre a nefasta influência daquele que nem merece ter seu nome escrito gerou um movimento de nossa torcida único no país. Um movimento que essencialmente de fora (torcida) para dentro (administração do clube). Muitos de nós queríamos apenas fazer o que gostamos: torcer para o Palmeiras. Mas hoje isso não é suficiente. Temos que torcer e politizar o Palmeiras. E é isso que faremos!

Sofremos? Sim! Mas só quem ama sabe o que é sofrer! Voltaremos!

PS: No dia 04 de janeiro de 2012 São Marcos do Palestra Itália anunciava sua aposentadoria. Naquele mesmo instante se iniciava uma nova era no Futebol. A Era São Marcos. E como toda nova Era, ela precisa de um calendário próprio. Este, como tantos outros, tem origem solar. Mas nosso sol é o grande ídolo São Marcos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

1714 ou 17:14

O ano era 1714. A Catalunha, mais uma vez, luta por liberdade contra Madri. Na batalha a derrota. No ideal o fortalecimento da nação catalã. Passam-se quase 300 anos. Agora o local da batalha é o estádio do Barcelona, Camp Nou. Mais uma vez, de um lado a Catalunha. Do outro Madri. Aos 17:14 a batalha sai do campo e vai para a arquibancada. Todo o estádio se levanta, bandeiras da Catalunha surgem de todos os lados. O estádio é "pintado" de vermelho e amarelo. Praticamente 100 mil pessoas girtam: Liberdade! Como dizem as várias bandeiras que todo jogo do Barcelona em casa se estendem no estádio: Catalunha não é Espanha. 

O Futebol extrapola fronteiras, mesmo que não o queiram os que dizem comandar o mesmo. Por isso todos os torcedores do Barça dizem: mais que um clube!


quinta-feira, 12 de julho de 2012

De volta ao lugar que nos cabe

Os últimos 13 anos, desde o título da Libertadores de 1999, são um hiato dentro da história super vitoriosa da Sociedade Esportiva Palmeiras. Pois bem, ontem o sentimento advindo da vitória e que ajudar a sedimentar o amor da torcida foi solto mais vez. E da melhor forma possível!

O enrendo foi dos melhores possíveis. Pelo local, pelo técnico que nos levou ao título, pela festa. Foi no Couto Pereira, no local em que sofremos uma das maiores goleadas, 6 a 0, ano pasado. Uma derrota que para muitos da impressa e para torcedores de outros times demonstrava o caminho que o Palmeiras tomava nos últimos anos, Menos para nós, Palestrinos! Ser Palmeirese é ser consciente dos problemas que afetam nossa diretoria, participar de uma torcida que faz campanha por Diretas Já, caso único no Brasil, talvez no mundo. E, principalmente, ser consciente da imensidão que tem a camisa verde e o time de Palestra Itália. Então, o título de ontem veio remomerar essa rica história.

Sendo assim, na noite de ontem, estávamos todos de volta ao Couto Pereira. 5.000 mil palmeirenses estavam lá, no estádio. Outros milhões estavam pelo Brasil todo. Cada torcedor palmeirense estava com sentimentos ambíguos. De um lado a angútia e o sofrimento pelos anos sem títulos. De outro, a certeza de que um time como o Palmeiras um dia retornaria ao lugar que lhe cabe. A vitória, o título e a grandeza fazem parte de nosso DNA!

O jogo passou, a vitória veio, o grito foi solto e o país voltou a ver aquilo que nós palestrinos temos certeza: Palmeiras decampeão nacional! O maior campeão nacional do país. 

Somos a única equipe do Brasil que ganhou todas as competições nacionais que aconteceram no Brasil. Taça Roberto Gomes Pedrosa, Taça Brasil, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e até um pequeno torneio, que só ocorreu uma vez e fomos campeões, Copa dos Campeões.

Por isso: Aqui é Palestra!

domingo, 13 de maio de 2012

Como alguém pode não gostar deste negócio


Manhã de domingo, como amante do futebol, sabia que a possibilidade de ver a emoção estampada nos rostos do torcedor, a melhor imagem que este esporte pode propiciar, estaria presente na Inglaterra.

Disputavam o título Do Campeonato Inglês as duas maiores torcidas de Manchester e duas das maiores torcidas do país. De um lado o poderoso Manchester United, 19 vezes campeão inglês e a maior potência do futebol daquele país nos últimos 20 anos. Do outro, seu maior rival, Manchester City, 3 vezes campeão, mas que não vencia um Campeonato Inglês desde 1968, que ficou de 1978 até 2011 sem conquistar um único título. Mas que, mesmo assim, tem a maior torcida da cidade de Manchester, em um desses fenômenos de paixão, amor, desprendimento que fogem à lógica do capitalismo.

Para melhorar ainda mais o enredo, o Manchester City tirou uma vantagem de 8 pontos de seu maior rival e chegou na última rodada empatado em pontos, mas com melhor saldo de gols. Uma vitória simples lhe daria um título a muito esperado pelos torcedores do City.

O Manchester United enfrentaria o Sunderland. O Manchester City o Queens Park Rangers. Enredo melhor do que este impossível!!!

O estádio do City estava lotado. Sua torcida alegre, cantando, empolgada. Começam os jogos. Aos 20 minutos do jogo do United, Rooney faz 1 a 0. O título iria para o lado vermelho de Manchester. Pouco depois no jogo do City, aos 38, Zabaleta faz 1 a 0 para os azuis. A torcida grita, canta e vê o que pareceu por décadas inalcançável chegar. Eram crianças, homens, mulheres, senhores. Todos unidos por uma paixão: seu time! Uma paixão que tem no grito de campeão um momento crucial, mas, sem dúvidas, o City mostra que são os laços de solidariedade que envolvem sua torcida que fazem o City ser do tamanho que é.
Começa o segundo tempo. A torcida azul toma seu primeiro baque. O QPR empata com gol de Cisse. O título volta para a metade vermelha. A partir daqui quem ama futebol se apaixonou pelo jogo. A angústia toma conta da torcida do City. O título tão esperado não viria? Barton, jogador do QPR, é expulso. Um pouco de alegria volta aos rostos da torcida azul. Entretanto, aos 20 minutos do segundo tempo, o QPR virá com gol de Mackie. Pesadelo?

A angústia começa a predominar na torcida do City. Um jogador a mais, mas seu time não faz gol. O tempo passa, todos ficam de pé. O goleiro adversário começa a “fechar o gol”. Os minutos continuam passando e nada de bola na rede. Alguns rostos já começam a passar da angústia para a tristeza. 40 minutos de jogo. Lágrimas caem dos rostos de alguns. 45 minutos. Acabou? Não!

Aos 46 Dzeko faz o gol de empate. A torcida vibra, explode. A esperança que não tinha acabado volta a dominar a todos. O gol deixa o QPR na lona. Na saída, ao invés de tentar manter a posse da bola, o time dá um chute para a linha de fundo. Na torcida, todos de pé, nervosos, ansiosos, emocionados. Mãos na cabeça, pulos. Em um lance, o jogador do City deixa a bola sair pela linha lateral. Mas a bola não é do time azul. Um torcedor começa a jogar sua camisa contra a arquibanda, totalmente revoltado. Não se podia perder nenhum milésimo segundo em busca do sonho!

A bola voltou para o City. Aguero a domina na interdiária do QPR, pelo lado esquerdo. Avança. Balotelli, de costas para o gol, se prepara para fazer o pivô. Aguero vê, toca para Balotelli e avança, cruzando o campo da esquerda para a direita. A torcida do City vê no lance a última possibilidade de ser campeão. Todos em pé. Balotelli domina a bola, cai, mas mesmo no chão rola a bola para o lado direito. Aguero continua avançando e com o mesmo toque em que domina a bola, finta o zagueiro. Fica de frente para o goleiro. A torcida do City está prestes a explodir, a feição dos rostos que tanto mudou ao longo dos 90 minutos pode se transformar totalmente. Aguero chuta. Gol! A torcida do City transforma-se e todos, agora, tem um único sentimento, a alegria. Aguero corre em direção à torcida que pareceu ser tomada por uma hecatombe de entusiasmo. Todos gritam, se abraçam, pulam, cantam. A emoção da torcida invade os jogadores, técnicos. Não é mais a razão que domina a todos os azuis. É a emoção. Emoção esta que domina e que é a parte fundante de toda torcida. Não são mais jogadores em campo, são todos torcedores.

O juiz apita o fim da partida. Agora é real, o título é do City. A torcida invade o campo, um torcedor ajoelhado, paga promessa, que talvez já durasse décadas. Agora, milhares de torcedores estão no campo, que deixa de ser verde. Agora é azul!

Eu, deitado em uma cama, a milhares de quilômetros de distância, também me emociono. Não torço para o City. Mas como estes sou apaixonado por futebol e por um time de futebol. Os diferentes sentimentos que aqueles torcedores passaram, são sentimentos que já passei. Compreendo cada grito, cada choro, cada sorriso, cada palavrão que ali aconteceram, pois, no fundo, nossa paixão é a mesma: o futebol.

O comentarista da ESPN, Mauro Cezar Pereira, profere duas frases que sintetizam as emoções que esta arte chamada futebol produzem em bilhões de pessoas “Como alguém pode não gostar deste negócio” e “A melhor invenção do homem”.

terça-feira, 27 de março de 2012

De mãe para filho

O texto que segue abaixo foi escrito pela irmã de um companheiro de paixão verde, membro do fórum de discussão 3vv, Wagner Gimenez. Já foi publicado pelo blog do Juca hoje de manhã. Mas sem modéstia, já havia pedido autorização ao Wagner Gimenez, tio do Dante e irmão da Erika Gimenez Barbuglio, antes do Juca Kfouri postar o texto. A narrativa expressa como o futebol se mistura com outros dos grandes amores do ser humano, o filial e o maternal/paternal. Simplesmente belo!

POR ERIKA GIMENEZ BARBUGLIO*

Domingo tinha tudo para ser um dia mais que especial… e foi!

Desde o começo do ano, aquele garotinho, de uma hora para outra, passou a ser assíduo telespectador dos jogos do Palmeiras.

Não que tenha se tornado torcedor do Verdão apenas agora, isso provavelmente ele já é desde o ventre materno, palmeirense.

Como bem se sabe, filho de palmeirense quase não tem escolha, e quando é atingido pela febre verde, torna-se doente de vez.

Mas como criança, menino no auge dos seus 5 anos e alguns meses, não tinha ainda a paciência necessária para se concentrar nos 90 minutos de bola rolando, ao contrário do primo, de mesma idade, mas com outras cores no coraçãozinho.

Assim, após uma dose deliciosa e muito bem vinda de invencibilidade, com gosto de quero mais, passou a torcer, vibrar, pular, e a ter no olhar aquele brilho tão familiar, aquela febre tão verde…

Descobriu um novo ídolo, um Pirata, já que o Santo se afastara e o Mago, em retiro, buscava reinventar suas magias!

Vibrou com uma assombração aos adversários nas cobranças de falta, gritou gol no meu colo muitas e muitas vezes, fez dancinhas, girou a camisa no ar, pulando na bancada e no sofá de casa…

E deu seus primeiros passos na complicada arte dos xingamentos, sob um olhar preocupado, que alertava: “No jogo, pode… Mas só durante o jogo!”.

E ganhando esse importante aval, deliciava-se proferindo impropérios ao juiz da vez, muitas vezes nem sabendo o que dizia, me olhando de canto de olho enquanto eu, segurando o riso, ensaiava uma bronca: “Que foi, mãe ? Só no jogo… né?” .Coisa de moleque.

E coisa linda de se ver…

Antes que o politicamente correto entre em campo, eu sei que não parece certo, que os pais não devem incentivar seus filhos na arte do xingamento. Só que, para quem gosta de futebol, ou melhor, para quem ama o Palmeiras, o momento de duração de um jogo é um parêntese mágico na vida real, um instante de pura epifania…

Significa estar também em campo e, para um moleque como ele, tudo naquele espetáculo é fabuloso, são onze guerreiros, onze heróis que deveriam saber que a paixão de meninos como Dante está na ponta da chuteira, na garra de cada um, na vontade de vencer.

Cometer tais traquinagens faz parte da vida e logo mais ele dirá palavrões com os colegas, procurará seus significados no dicionário…

Por mais bobo que possa parecer isso significa amadurecer e tornar-se homem, e no que depender de mim, ele será um grande Homem, mesmo xingando o juiz durante o jogo!

Não foi o primeiro clássico da vida de Dante, outros tantos aconteceram desde o finalzinho de 2005, quando nasceu.

Mas foi um dos primeiros que ele se lembrará para o resto da vida, o primeiro assistido do início ao fim…

Com certeza, terminou sendo um dia de grande aprendiza do, de entrega, de paixão, de experimentar aquela montanha russa de emoções que significa ser palmeirense: da euforia à desolação em minutos!

Nós, pessoas grandes e crescidas, sabemos bem o que é isso, vivenciamos essa experiência tantas e tantas vezes antes. Mas ele ainda não sabia…

Em sua curta vida, estar invicto há tantos jogos era uma eternidade.Provavelmente ele não se lembrava de como era terminar um jogo derrotado.

Sentiu anteontem, no clássico, esse gosto terrivelmente amargo para um menino.

Sentiu o golpe, sofreu, chorou, se desesperou.

Como mãe, eu gostaria de ter o poder de tirar dele essa dor, de dizer que tudo aquilo era uma grande besteira, uma bobagem sem nenhum significado, apenas um jogo…

Apenas um jogo…

Mas como eu poderia dizer isso ao meu filho se eu, tantas vezes, me senti como ele?

Se eu, tantas vezes, quis gritar, chorar, quebrar coisas, e perguntar “porquê”?

Como adulta, eu jamais poderia agir dessa maneira, deixando a emoção mandar, mas ele, menino que acabara de completar seis anos, desenhando um Pirata num navio lançando de seus canhões bombas com o símbolo do Palmeiras, como poderia agir diferente?

E então, num momento catártico, deixei que ele colocasse para fora o que sentia, assistindo com muita dor meu filho sofrer, pela primeira vez, pelo Palmeiras, sofrendo junto, inutilmente. Ele estava sendo humano, demasiadamente humano, tentando reagir com diversas emoções conflitantes ao mesmo tempo.

De todas as heranças que os filhos herdam dos pais, o time do coração é questão das mais complexas.É bom ter a companhia dele na torcida e na vitória, mas vê-lo sofrer assim na derrota é muito doloroso.

Talvez fosse melhor esquecermos essa história de futebol e focarmos no que é importante da vida. Mas que graça teria?

Precisamos de ritos na vida moderna, e o futebol, embora seja comercialmente algo de potencial sem precedentes, cumpre essa tarefa.

Filho, você é um companheiro maravilhoso.

Inclusive na arquibancada…

Vê-lo cantar o hino, vê-lo torcer, receber seu abraço eufórico na comemoração do gol é algo que não tenho como descrever.

Mas saiba que em todas as derrotas que virão também estaremos juntos, íntegros, mais fortes e sábios, e aos poucos você aprenderá a lidar com elas, no campo, e, principalmente, fora dele. Eu te quero feliz, meu Principito!

Sobre o clássico perdido, só posso te dizer que a vida é assim, um dia ganhamos, no outro perdemos.

Mas, segura em minha mão, pois, permaneceremos, cantando, vibrando e ostentando a nossa fibra.

*Erika Gimenez Barbuglio é formada na Faculdade de Letras da USP e diretora de Recursos Humanos.

domingo, 4 de março de 2012

Racismo e Homofobia no esporte. Qual lição podemos aprender?

Na última quarta, 29/02, em Belo Horizonte, o jogador Wallace do Cruzeiro/Sada e da seleção brasileira de Vôlei ia para o saque contra o Vivo/Minas. Quando ele, e muitos outros no estádio, ouviram declarações racistas contra o mesmo de vários torcedores que o chamaram de "macaco". As agreções continuaram durante todo o jogo. Ao final da partida, indagado sobre o episódio, o jogador disse que quase ficou fora de controle pela humilhação que sofreu.


Casos de racismo contra esportistas são comuns na Europa, principalmente de jogadores origem/ascendência africana e sul-americana. Já no Brasil nos últimos anos vimos casos de jogares de futebol agredirem outros jogadores com palavras de cunho racista. Entretanto, a torcida proferindo palavras de cunho racista contra um esportista no Brasil, eu não me lembro de ter ocorrido. Mesmo que em um ginásio de Vôlei ser muito mais fácil de escutar uma agressão do que em um estádio de futebol. Além disso, dado o contexto mundial de aumento da xenofobia e do racismo no mundo, esse caso deve ser tratado com a maior atenção possível pela sociedade, pelos clubes de vôlei, pela CBV e pelo estado brasileiro.

Pois bem, no jogo seguinte, sábado, 03/03, o time do Wallace recebeu em Contagem o Vôlei/Futuro, que quando entrou em quadra, mostrou gestos que merecem todo destaque. Os jogadores entraram com a camisa do time sem a logomarca do patrocinador. No lugar os dizeres “VF Contra a Discriminação”. Além disso, todos os jogadores do Vôlei/Futuro estavam com o nome de Wallace, ao invés dos seus, na camisa. Para coroar, a camisa era toda preta.

Mais uma vez o time de Araçatuba teve uma atuação da mais dignas e que merece elogios. Lembremos que ano passado um jogador da equipe, Michael, sofreu agressões verbais homofóbicas em um jogo do Vôlei/Futuro contra o mesmo Cruzeiro/Sada. E a equipe tomou a causa do jogador para si, fez campanha contra a homofobia e o caso ganhou repercussão nacional, contribuindo para o debate contra a homofobia em nossa sociedade.

Agressões homofóbicas e racistas são comuns no cotidiano brasileiro e a sociedade e o estado muitas vezes não atribuem a devida atenção às mesmas. Além disso, ambas são fenômenos associados ao que o século de XX de pior legará para a humanidade, o totalitarismo/fascismo presente no indivíduo e na sociedade. Ou seja, esses casos expressam um sentimento por parte do indivíduo, ou de parte da sociedade, que considera que determinadas características suas (cor da pele e opção sexual) faça com que sejam melhores do que outras pessoas e que, por causa disso, as pessoas que não partilham de suas características perdem totalmente ou em parte sua própria humanidade.

Ganha maior destaque o fato de que em ambos os casos o ofendido foi uma pessoa considerada com um status maior pela sociedade, pois são atletas. E o agressor é um comum, um torcedor. Assim, o grau de superioridade que se atribui o sujeito é tão alto que ele agride até mesmo um atleta. Se faz isso com os mesmos, imagine o que não faz na vida cotidiana com pessoas que nossa sociedade atribui um status inferior?

Com tudo isso, quero dizer que se a homofobia chega até aos atletas, pessoas com status superior em nossa sociedade, e proferidas por torcedores é porque o nível de fascismo presente na sociedade alcança níveis preocupantes e devem ser tratados com toda seriedade pelos atletas, clubes, confederações e, principalmente, pela sociedade e pelo estado brasileiro!

Assim, a atitude do Vôlei Futuro de denunciar e apoiar os agredidos em ambos os casos merece aplausos e colocam o esporte no patamar que realmente é o seu: de uma prática cultural que mantêm intima relação com a sociedade e, que por isso, tem uma função social a desempenhar para a qual não pode virar as costas!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Voltei!

Leitores,
Após um afastamento do blog, retorno ao mesmo. E o que me motiva é a relação entre futebol e política que novamente vem à tona com a decisão do Supremo Tribunal Federal que julgou improcedente as ações do PP em uma ADIN (Ação de Inconstitucionalidade) contra o Estatuto do Torcedor.

O PP argumentava em sua ação que o Estatuto feria a liberdade de expressão de uma associação privada e que era uma intervenção estatal, ferindo a autonomia esportiva. O STF seguiu o voto do relator, Cezar Peluso, e determinou que todo o Estatuto do Torcedor é legal.

A votação do STF é histórica, pois entender que o futebol faz parte da cultura nacional e que o mesmo é um direito do cidadão, cabendo, então, ao Estado legislar e garantir os direitos do cidadão em relação ao esporte.

Ou seja, cai por terra a argumentação daqueles que só lembram que o esporte é público na hora de receber dinheiro do governo!

Cabe a presidenta Dilma se valer da decisão do STF e retirar "0 grande ditador" Ricardo Teixeira da CBF.