domingo, 4 de março de 2012

Racismo e Homofobia no esporte. Qual lição podemos aprender?

Na última quarta, 29/02, em Belo Horizonte, o jogador Wallace do Cruzeiro/Sada e da seleção brasileira de Vôlei ia para o saque contra o Vivo/Minas. Quando ele, e muitos outros no estádio, ouviram declarações racistas contra o mesmo de vários torcedores que o chamaram de "macaco". As agreções continuaram durante todo o jogo. Ao final da partida, indagado sobre o episódio, o jogador disse que quase ficou fora de controle pela humilhação que sofreu.


Casos de racismo contra esportistas são comuns na Europa, principalmente de jogadores origem/ascendência africana e sul-americana. Já no Brasil nos últimos anos vimos casos de jogares de futebol agredirem outros jogadores com palavras de cunho racista. Entretanto, a torcida proferindo palavras de cunho racista contra um esportista no Brasil, eu não me lembro de ter ocorrido. Mesmo que em um ginásio de Vôlei ser muito mais fácil de escutar uma agressão do que em um estádio de futebol. Além disso, dado o contexto mundial de aumento da xenofobia e do racismo no mundo, esse caso deve ser tratado com a maior atenção possível pela sociedade, pelos clubes de vôlei, pela CBV e pelo estado brasileiro.

Pois bem, no jogo seguinte, sábado, 03/03, o time do Wallace recebeu em Contagem o Vôlei/Futuro, que quando entrou em quadra, mostrou gestos que merecem todo destaque. Os jogadores entraram com a camisa do time sem a logomarca do patrocinador. No lugar os dizeres “VF Contra a Discriminação”. Além disso, todos os jogadores do Vôlei/Futuro estavam com o nome de Wallace, ao invés dos seus, na camisa. Para coroar, a camisa era toda preta.

Mais uma vez o time de Araçatuba teve uma atuação da mais dignas e que merece elogios. Lembremos que ano passado um jogador da equipe, Michael, sofreu agressões verbais homofóbicas em um jogo do Vôlei/Futuro contra o mesmo Cruzeiro/Sada. E a equipe tomou a causa do jogador para si, fez campanha contra a homofobia e o caso ganhou repercussão nacional, contribuindo para o debate contra a homofobia em nossa sociedade.

Agressões homofóbicas e racistas são comuns no cotidiano brasileiro e a sociedade e o estado muitas vezes não atribuem a devida atenção às mesmas. Além disso, ambas são fenômenos associados ao que o século de XX de pior legará para a humanidade, o totalitarismo/fascismo presente no indivíduo e na sociedade. Ou seja, esses casos expressam um sentimento por parte do indivíduo, ou de parte da sociedade, que considera que determinadas características suas (cor da pele e opção sexual) faça com que sejam melhores do que outras pessoas e que, por causa disso, as pessoas que não partilham de suas características perdem totalmente ou em parte sua própria humanidade.

Ganha maior destaque o fato de que em ambos os casos o ofendido foi uma pessoa considerada com um status maior pela sociedade, pois são atletas. E o agressor é um comum, um torcedor. Assim, o grau de superioridade que se atribui o sujeito é tão alto que ele agride até mesmo um atleta. Se faz isso com os mesmos, imagine o que não faz na vida cotidiana com pessoas que nossa sociedade atribui um status inferior?

Com tudo isso, quero dizer que se a homofobia chega até aos atletas, pessoas com status superior em nossa sociedade, e proferidas por torcedores é porque o nível de fascismo presente na sociedade alcança níveis preocupantes e devem ser tratados com toda seriedade pelos atletas, clubes, confederações e, principalmente, pela sociedade e pelo estado brasileiro!

Assim, a atitude do Vôlei Futuro de denunciar e apoiar os agredidos em ambos os casos merece aplausos e colocam o esporte no patamar que realmente é o seu: de uma prática cultural que mantêm intima relação com a sociedade e, que por isso, tem uma função social a desempenhar para a qual não pode virar as costas!

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