quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A Chantagem Olímpica


Essa semana, em caráter de urgência, a Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro recebeu um projeto vindo do executivo que é elucidativo de como a Copa da Mundo e as Olimpíadas se tornaram um dos principais motores para que a iniciativa privada lucre com o apelo popular desses eventos em detrimento do público.  E mais! Com total anuência e ajuda de nosso governantes. Assim, se configura uma remodelação dos espaços públicos em um projeto de elitização, que chamo de Faxina Étnica! Vamos explicar essa história.

O projeto de Lei enviado à Câmara propõe alterações em uma Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) na região da reserva florestal de Marependi, zona oeste da cidade, também conhecida como Barra. Pelo mesmo, essa ZCVS poderá em uma área de 58 mil metros quadrados ter um campo de golfe construído e, também, abrigar prédios de mais de 20 andares, quando o antigo padrão era de 6 andares. Aparentemente, algo normal na vida de grandes cidades brasileiras. Mas não é bem assim.

Primeiramente pela relação existente entre a empresa responsável pela construção, tanto do empreendimento imobiliário como do campo de golfe, a RFZ Cyrella e de um dos seus acionistas o italiano Pasquale Mauro, conhecido grileiro de terras no Rio de Janeiro.

A área em que se situa tanto o empreendimento imobiliário, como o “futuro”  campo de golfe são fruto de ferrenha disputa pela posse da terra entre Pasquale Mauro, a ELMWAY Participações e o espólio de duas outras pessoas. Este caso está no Supremo Tribunal de Justiça e, por ora, a posse do terreno continua com Pasquale Mauro. Entretanto, a ELMWAY já disse que ganhando a disputa tem outros planos para a área. Além disso,  Cyrella e outras empresas do ramo são uma das principais doadoras para a campanha de Eduardo Paes, mostrando a relação entre empreiteiras e esse grupo político na cidade do Rio de Janeiro.

Além disso, no processo que dá a posse de terra ao Pasquale foi julgado por Luiz Sveiter em outubro do ano passado, quando este presidia o TRJ/RJ. Cruzando dados sabemos que a Cyrella tem negócios com o escritório de advocacia da família Sveiter e, também, a Cyrella doou dinheiro para a campanha do, agora, deputado federal Sergio Sveiter. Sendo assim, Luiz Sveiter deveria se declarar inapto para julgar o caso. Como não o fez, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em dezembro do ano passado abriu processo contra o desembargador Luiz Sveiter. Como se vê, não existe fronteiras entre os interesses do grupo Cyrela, o judiciário e o executivo do Rio de Janeiro.

De acordo com o prefeito do Rio de Janeiro a prefeitura não gastará um centavo com a construção do campo de Golfe. Toda a construção será bancada pela construtora Cyrella em contrapartida da construção de um conjunto de prédios na região. Cabe ressaltar que o valor de mercado do terreno em que se construirá o Golfe é de R$ 2 bilhões e 200 milhões de reais. E o valor da construção seria de R$ 60 milhões. Cabe perguntar. Qual empresa faria essa doação bilionária sem interesses para além do resort? Além disso, o terreno não passará para a posse para o estado. O uso será de 25 anos. Depois desse período o terreno volta para as mãos da iniciativa privada.

É uma influência no modo de governo que vai para além dessa região e afeta todo o estado do Rio de Janeiro. A Copa do Mundo e as Olimpíadas são catalisadores de uma forma de gerir o estado que é elitista e contrária aos interesses do bem comum. Expulsão dos moradores para áreas distantes, favorecimento das grandes empresas do ramo empreiteiro, financiamento de campanha de políticos tudo se fecha em um mesmo projeto de cidade.

Tudo em nome das Olimpíadas. É um novo tipo de coação, a “Chantagem Olímpica”.