Essa semana, em caráter de
urgência, a Câmara de Vereadores da cidade do Rio de Janeiro recebeu um projeto
vindo do executivo que é elucidativo de como a Copa da Mundo e as Olimpíadas se
tornaram um dos principais motores para que a iniciativa privada lucre com o
apelo popular desses eventos em detrimento do público. E mais! Com total anuência e ajuda de nosso
governantes. Assim, se configura uma remodelação dos espaços públicos em um
projeto de elitização, que chamo de Faxina
Étnica! Vamos explicar essa história.
O projeto de Lei enviado à Câmara
propõe alterações em uma Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS) na região
da reserva florestal de Marependi, zona oeste da cidade, também conhecida como
Barra. Pelo mesmo, essa ZCVS poderá em uma área de 58 mil metros quadrados ter
um campo de golfe construído e, também, abrigar prédios de mais de 20 andares,
quando o antigo padrão era de 6 andares. Aparentemente, algo normal na vida de
grandes cidades brasileiras. Mas não é bem assim.
Primeiramente pela relação
existente entre a empresa responsável pela construção, tanto do empreendimento
imobiliário como do campo de golfe, a RFZ Cyrella e de um dos seus acionistas o
italiano Pasquale Mauro, conhecido grileiro de terras no Rio de Janeiro.
A área em que se situa tanto o
empreendimento imobiliário, como o “futuro”
campo de golfe são fruto de ferrenha disputa pela posse da terra entre
Pasquale Mauro, a ELMWAY Participações e o espólio de duas outras pessoas. Este
caso está no Supremo Tribunal de Justiça e, por ora, a posse do terreno
continua com Pasquale Mauro. Entretanto, a ELMWAY já disse que ganhando a
disputa tem outros planos para a área. Além disso, Cyrella e outras empresas do ramo são uma das
principais doadoras para a campanha de Eduardo Paes, mostrando a relação entre
empreiteiras e esse grupo político na cidade do Rio de Janeiro.
Além disso, no processo que dá a
posse de terra ao Pasquale foi julgado por Luiz Sveiter em outubro do ano
passado, quando este presidia o TRJ/RJ. Cruzando dados sabemos que a Cyrella
tem negócios com o escritório de advocacia da família Sveiter e, também, a
Cyrella doou dinheiro para a campanha do, agora, deputado federal Sergio
Sveiter. Sendo assim, Luiz Sveiter deveria se declarar inapto para julgar o
caso. Como não o fez, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em dezembro do ano
passado abriu processo contra o desembargador Luiz Sveiter. Como se vê, não
existe fronteiras entre os interesses do grupo Cyrela, o judiciário e o
executivo do Rio de Janeiro.
De acordo com o prefeito do Rio
de Janeiro a prefeitura não gastará um centavo com a construção do campo de
Golfe. Toda a construção será bancada pela construtora Cyrella em contrapartida
da construção de um conjunto de prédios na região. Cabe ressaltar que o valor
de mercado do terreno em que se construirá o Golfe é de R$ 2 bilhões e 200
milhões de reais. E o valor da construção seria de R$ 60 milhões. Cabe
perguntar. Qual empresa faria essa doação bilionária sem interesses para além
do resort? Além disso, o terreno não passará para a posse para o estado. O uso
será de 25 anos. Depois desse período o terreno volta para as mãos da
iniciativa privada.
É uma influência no modo de
governo que vai para além dessa região e afeta todo o estado do Rio de Janeiro.
A Copa do Mundo e as Olimpíadas são catalisadores de uma forma de gerir o estado
que é elitista e contrária aos interesses do bem comum. Expulsão dos moradores
para áreas distantes, favorecimento das grandes empresas do ramo empreiteiro,
financiamento de campanha de políticos tudo se fecha em um mesmo projeto de
cidade.
Tudo em nome das Olimpíadas. É um
novo tipo de coação, a “Chantagem
Olímpica”.