Manhã de domingo, como amante do
futebol, sabia que a possibilidade de ver a emoção estampada nos rostos do
torcedor, a melhor imagem que este esporte pode propiciar, estaria presente na
Inglaterra.
Disputavam o título Do Campeonato
Inglês as duas maiores torcidas de Manchester e duas das maiores torcidas do
país. De um lado o poderoso Manchester United, 19 vezes campeão inglês e a maior
potência do futebol daquele país nos últimos 20 anos. Do outro, seu maior
rival, Manchester City, 3 vezes campeão, mas que não vencia um Campeonato Inglês
desde 1968, que ficou de 1978 até 2011 sem conquistar um único título. Mas que,
mesmo assim, tem a maior torcida da cidade de Manchester, em um desses fenômenos
de paixão, amor, desprendimento que fogem à lógica do capitalismo.
Para melhorar ainda mais o enredo,
o Manchester City tirou uma vantagem de 8 pontos de seu maior rival e chegou na
última rodada empatado em pontos, mas com melhor saldo de gols. Uma vitória
simples lhe daria um título a muito esperado pelos torcedores do City.
O Manchester United enfrentaria o Sunderland. O
Manchester City o Queens Park Rangers. Enredo melhor do que este
impossível!!!
O estádio do City estava lotado.
Sua torcida alegre, cantando, empolgada. Começam os jogos. Aos 20 minutos do
jogo do United, Rooney faz 1 a 0. O título iria para o lado vermelho de
Manchester. Pouco depois no jogo do City, aos 38, Zabaleta faz 1 a 0 para os
azuis. A torcida grita, canta e vê o que pareceu por décadas inalcançável
chegar. Eram crianças, homens, mulheres, senhores. Todos unidos por uma paixão:
seu time! Uma paixão que tem no grito de campeão um momento crucial, mas, sem
dúvidas, o City mostra que são os laços de solidariedade que envolvem sua
torcida que fazem o City ser do tamanho que é.
Começa o segundo tempo. A torcida
azul toma seu primeiro baque. O QPR empata com gol de Cisse. O título volta
para a metade vermelha. A partir daqui quem ama futebol se apaixonou pelo jogo.
A angústia toma conta da torcida do City. O título tão esperado não viria?
Barton, jogador do QPR, é expulso. Um pouco de alegria volta aos rostos da
torcida azul. Entretanto, aos 20 minutos do segundo tempo, o QPR virá com gol
de Mackie. Pesadelo?
A angústia começa a predominar na
torcida do City. Um jogador a mais, mas seu time não faz gol. O tempo passa, todos
ficam de pé. O goleiro adversário começa a “fechar o gol”. Os minutos continuam
passando e nada de bola na rede. Alguns rostos já começam a passar da angústia
para a tristeza. 40 minutos de jogo. Lágrimas caem dos rostos de alguns. 45
minutos. Acabou? Não!
Aos 46 Dzeko faz o gol de empate.
A torcida vibra, explode. A esperança que não tinha acabado volta a dominar a
todos. O gol deixa o QPR na lona. Na saída, ao invés de tentar manter a posse
da bola, o time dá um chute para a linha de fundo. Na torcida, todos de pé,
nervosos, ansiosos, emocionados. Mãos na cabeça, pulos. Em um lance, o jogador
do City deixa a bola sair pela linha lateral. Mas a bola não é do time azul. Um
torcedor começa a jogar sua camisa contra a arquibanda, totalmente revoltado.
Não se podia perder nenhum milésimo segundo em busca do sonho!
A bola voltou para o City. Aguero
a domina na interdiária do QPR, pelo lado esquerdo. Avança. Balotelli, de
costas para o gol, se prepara para fazer o pivô. Aguero vê, toca para Balotelli
e avança, cruzando o campo da esquerda para a direita. A torcida do City vê no
lance a última possibilidade de ser campeão. Todos em pé. Balotelli domina a
bola, cai, mas mesmo no chão rola a bola para o lado direito. Aguero continua
avançando e com o mesmo toque em que domina a bola, finta o zagueiro. Fica de
frente para o goleiro. A torcida do City está prestes a explodir, a feição dos
rostos que tanto mudou ao longo dos 90 minutos pode se transformar totalmente.
Aguero chuta. Gol! A torcida do City transforma-se e todos, agora, tem um único
sentimento, a alegria. Aguero corre em direção à torcida que pareceu ser tomada
por uma hecatombe de entusiasmo. Todos gritam, se abraçam, pulam, cantam. A
emoção da torcida invade os jogadores, técnicos. Não é mais a razão que domina
a todos os azuis. É a emoção. Emoção esta que domina e que é a parte fundante
de toda torcida. Não são mais jogadores em campo, são todos torcedores.
O juiz apita o fim da partida.
Agora é real, o título é do City. A torcida invade o campo, um torcedor
ajoelhado, paga promessa, que talvez já durasse décadas. Agora, milhares de
torcedores estão no campo, que deixa de ser verde. Agora é azul!
Eu, deitado em uma cama, a
milhares de quilômetros de distância, também me emociono. Não torço para o
City. Mas como estes sou apaixonado por futebol e por um time de futebol. Os
diferentes sentimentos que aqueles torcedores passaram, são sentimentos que já
passei. Compreendo cada grito, cada choro, cada sorriso, cada palavrão que ali
aconteceram, pois, no fundo, nossa paixão é a mesma: o futebol.
O comentarista da ESPN, Mauro Cezar
Pereira, profere duas frases que sintetizam as emoções que esta arte chamada
futebol produzem em bilhões de pessoas “Como
alguém pode não gostar deste negócio” e “A
melhor invenção do homem”.