domingo, 13 de maio de 2012

Como alguém pode não gostar deste negócio


Manhã de domingo, como amante do futebol, sabia que a possibilidade de ver a emoção estampada nos rostos do torcedor, a melhor imagem que este esporte pode propiciar, estaria presente na Inglaterra.

Disputavam o título Do Campeonato Inglês as duas maiores torcidas de Manchester e duas das maiores torcidas do país. De um lado o poderoso Manchester United, 19 vezes campeão inglês e a maior potência do futebol daquele país nos últimos 20 anos. Do outro, seu maior rival, Manchester City, 3 vezes campeão, mas que não vencia um Campeonato Inglês desde 1968, que ficou de 1978 até 2011 sem conquistar um único título. Mas que, mesmo assim, tem a maior torcida da cidade de Manchester, em um desses fenômenos de paixão, amor, desprendimento que fogem à lógica do capitalismo.

Para melhorar ainda mais o enredo, o Manchester City tirou uma vantagem de 8 pontos de seu maior rival e chegou na última rodada empatado em pontos, mas com melhor saldo de gols. Uma vitória simples lhe daria um título a muito esperado pelos torcedores do City.

O Manchester United enfrentaria o Sunderland. O Manchester City o Queens Park Rangers. Enredo melhor do que este impossível!!!

O estádio do City estava lotado. Sua torcida alegre, cantando, empolgada. Começam os jogos. Aos 20 minutos do jogo do United, Rooney faz 1 a 0. O título iria para o lado vermelho de Manchester. Pouco depois no jogo do City, aos 38, Zabaleta faz 1 a 0 para os azuis. A torcida grita, canta e vê o que pareceu por décadas inalcançável chegar. Eram crianças, homens, mulheres, senhores. Todos unidos por uma paixão: seu time! Uma paixão que tem no grito de campeão um momento crucial, mas, sem dúvidas, o City mostra que são os laços de solidariedade que envolvem sua torcida que fazem o City ser do tamanho que é.
Começa o segundo tempo. A torcida azul toma seu primeiro baque. O QPR empata com gol de Cisse. O título volta para a metade vermelha. A partir daqui quem ama futebol se apaixonou pelo jogo. A angústia toma conta da torcida do City. O título tão esperado não viria? Barton, jogador do QPR, é expulso. Um pouco de alegria volta aos rostos da torcida azul. Entretanto, aos 20 minutos do segundo tempo, o QPR virá com gol de Mackie. Pesadelo?

A angústia começa a predominar na torcida do City. Um jogador a mais, mas seu time não faz gol. O tempo passa, todos ficam de pé. O goleiro adversário começa a “fechar o gol”. Os minutos continuam passando e nada de bola na rede. Alguns rostos já começam a passar da angústia para a tristeza. 40 minutos de jogo. Lágrimas caem dos rostos de alguns. 45 minutos. Acabou? Não!

Aos 46 Dzeko faz o gol de empate. A torcida vibra, explode. A esperança que não tinha acabado volta a dominar a todos. O gol deixa o QPR na lona. Na saída, ao invés de tentar manter a posse da bola, o time dá um chute para a linha de fundo. Na torcida, todos de pé, nervosos, ansiosos, emocionados. Mãos na cabeça, pulos. Em um lance, o jogador do City deixa a bola sair pela linha lateral. Mas a bola não é do time azul. Um torcedor começa a jogar sua camisa contra a arquibanda, totalmente revoltado. Não se podia perder nenhum milésimo segundo em busca do sonho!

A bola voltou para o City. Aguero a domina na interdiária do QPR, pelo lado esquerdo. Avança. Balotelli, de costas para o gol, se prepara para fazer o pivô. Aguero vê, toca para Balotelli e avança, cruzando o campo da esquerda para a direita. A torcida do City vê no lance a última possibilidade de ser campeão. Todos em pé. Balotelli domina a bola, cai, mas mesmo no chão rola a bola para o lado direito. Aguero continua avançando e com o mesmo toque em que domina a bola, finta o zagueiro. Fica de frente para o goleiro. A torcida do City está prestes a explodir, a feição dos rostos que tanto mudou ao longo dos 90 minutos pode se transformar totalmente. Aguero chuta. Gol! A torcida do City transforma-se e todos, agora, tem um único sentimento, a alegria. Aguero corre em direção à torcida que pareceu ser tomada por uma hecatombe de entusiasmo. Todos gritam, se abraçam, pulam, cantam. A emoção da torcida invade os jogadores, técnicos. Não é mais a razão que domina a todos os azuis. É a emoção. Emoção esta que domina e que é a parte fundante de toda torcida. Não são mais jogadores em campo, são todos torcedores.

O juiz apita o fim da partida. Agora é real, o título é do City. A torcida invade o campo, um torcedor ajoelhado, paga promessa, que talvez já durasse décadas. Agora, milhares de torcedores estão no campo, que deixa de ser verde. Agora é azul!

Eu, deitado em uma cama, a milhares de quilômetros de distância, também me emociono. Não torço para o City. Mas como estes sou apaixonado por futebol e por um time de futebol. Os diferentes sentimentos que aqueles torcedores passaram, são sentimentos que já passei. Compreendo cada grito, cada choro, cada sorriso, cada palavrão que ali aconteceram, pois, no fundo, nossa paixão é a mesma: o futebol.

O comentarista da ESPN, Mauro Cezar Pereira, profere duas frases que sintetizam as emoções que esta arte chamada futebol produzem em bilhões de pessoas “Como alguém pode não gostar deste negócio” e “A melhor invenção do homem”.