quinta-feira, 10 de julho de 2008

Indicação.

Aos meus leitores (se é que existe algum),
Indico um dos vários blogs que leio frequentemente sobre futebol. Este é o blog do Birner. Jornalista, 38 anos e que apresenta um programa junto com o Juca de segunda a sexta na rádio CBN. Como acredito bastante no ditado do "Diga-me com quem tu andas e te direi quem és", acho que tal informação já credencia o blog. Além disso, o mesmo conta com post de vários jornalistas de credenciados veículos esportivos, como a ESPN. Vale a pena conferir.
http://blogdobirner.net/
Para terem uma idéia da qualidad do blog, transcrevo uma matéria publicada no mesmo sobre o Copa da Argentina em 1978. Escrita pelo advogado Xico Mata.

O boicote à Copa da Argentina em 1978
De Xico Malta

A junta militar, dirigida pelo general Jorge Rafael Videla, deu um Golpe de Estado e destituiu do poder a presidente Isabel Perón, em 24 de março de 1976.Foi o início do chamado “Proceso de Reorganización Nacional”.
Os militares combateram com ferocidade qualquer oposição ao regime. Estima-se em 30.000 o número de pessoas mortas ou desaparecidas. Cerca de meio milhão de argentinos saíram do país para escapar da virulenta repressão.Os dissidentes eram seqüestrados e presos sem julgamento. Depois de torturados, eram jogados de um avião no estuário do Rio da Prata.
O capitão Adolfo Francisco Scilingo, condenado em 2005 pela justiça espanhola a 640 anos de prisão por crimes contra a humanidade, declarou:“Em 1977, eu era oficial da ESMA (Escuela Superior de Mecánica de la Armada, onde funcionava um centro clandestino de detenção e tortura). Participei de duas transferências aéreas de subversivos. Falávamos que eles iriam ser levados a uma prisão no sul do país e que para evitar doenças contagiosas, deveriam ser vacinados. Na verdade, injetávamos uma droga para que ficassem atordoados. Então eram atirados no mar em pleno vôo. Havia transferências todas quartas-feiras”.
As mães dos presos desaparecidos, em 30 de abril de 1977, se reuniram na Praça de Maio e fizeram uma manifestação pacífica exigindo noticias de seus filhos.Seis meses depois, as mesmas mães conseguiram publicar no jornal portenho La Prensa, um apelo pedindo noticias de seus entes queridos: “Queremos somente a verdade”, pediam na manchete.
Apesar de tudo, a Argentina, sob o terrível cenário, organizou a décima primeira edição da Copa do Mundo de Futebol, lembrando em vários aspectos a Copa de 1934 na Itália fascista.
Alguns meses antes do mundial de 1978, argentinos exilados na França junto com franceses criaram um Comitê chamado COBA ( Comité d’ Organization pour le Boycotte a la Coupe du Monde en Argentine). Queriam organizar o boicote à Copa do Mundo na Argentina.
Queriam, antes de qualquer coisa, alertar a opinião pública internacional sobre a grave situação argentina. Tentavam sensibilizar as federações nacionais e a FIFA para que ou mudassem o país sede ou anulassem a competição. A idéia era minar o regime de Videla.O COBA organizou manifestações públicas, panfletagem na saída dos estádios, cartas às entidades públicas e esportivas , além de reuniões.
Mas o COBA sabia que não teria seus pedidos atendidos. E na véspera do embarque da seleção francesa para a Argentina, membros do comitê tentaram seqüestrar o treinador francês Michel Hidalgo, no intuito de que suas mensagens contra a ditadura militar fossem ouvidas.
Não foram alguns poucos anônimos os simpatizantes desse movimento. Intelectuais como Alain Touraine, Jean Paul Sartre, Louis Aragon, Roland Barthes e Marguerite Duras, artistas famosos como Yves Montand e Simone Signoret, refugiados políticos de toda a América Latina, organizações não governamentais e, sobretudo, partidos de esquerda.
No começo de 1978, o COBA e a Anistia Internacional divulgaram números assustadores: 10.000 assassinatos, 15.000 desaparecidos e 8.000 presos políticos. No país do mundial, a censura era absoluta contra a imprensa, estavam proibidas todas as atividade políticas e sindicais.
Houve também manifestações por parte dos militantes da organização peronista Montoneros que residiam na Europa. Eles imprimiam panfletos, revistas, livros e jornais que eram levados às seleções que iriam disputar a Copa.
Jornalistas, torcedores e dirigentes também recebiam tais publicações com a seguinte mensagem: “Mais de 5.000 mortos e 20.000 desaparecidos não poderão assistir a Copa. Como também não poderão os 15.000 prisioneiros, dentre eles, políticos, sindicalistas, estudantes e advogados”.
As notícias vindas da Argentina sobre as graves violações aos direitos humanos sensibilizaram alguns jogadores. O holandês Van Hanegem e o meio campista da seleção alemã e do Bayern de Munique Paul Breitner decidiram não disputar a Copa do Mundo.
Por muito tempo, disseram que Cruyff também havia boicotado. A história vendida pelos interessados foi desmentida, em abril desse ano. O próprio craque holandês revelou o real motivo de sua ausência. Falou na radio Catalunya que uma tentativa de seqüestro, em 1977, o abalou: “Tive um fuzil apontado na minha cabeça, eu, minha esposa e meus filhos fomos amarrados no nosso apartamento em Barcelona. Para jogar uma Copa você precisa estar 200%. Há momentos em que existem outros valores na vida”.
Apesar de todo o esforço, o COBA não conseguiu convencer as autoridades políticas e esportivas. Nenhum país boicotou a competição.No entanto, os seus apelos não foram em vão. As denúncias contra as atrocidades cometidas pela ditadura Videla ecoaram por toda a opinião pública internacional.

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